Muitos aqui estão reclamando do Governo e assumindo que o Brasil é assim pq os impostos são altos ou porque a Apple quer lucrar aqui com o seu produto Premium. Acho que esse é o momento de pensarmos em quão liberal o mercado pode ser e o que isso representa.
A teoria de que o mercado se auto-regula só existe em mercados pulverizados. Se observamos o preço das passagens aéreas ou dos carros, que são indústrias que exigem muito investimento imobilizado, vemos que há um oligopólio e a manipulação dos preços. Uma passagem aérea SPxRJ na sexta-feira às 21h custa mais de R$ 1000,00 e o vôo sai vazio. Enquanto isso, as companhias aéreas reclamam do preço do petróleo e usam essa justificativa para aumentar mais ainda os preços das passagens. Espantosamente, elas ainda operam em prejuízo ou lucros mínimos todo ano. Por que alguém optaria por investir numa indústria cara e tão imobilizada se não houvesse a possibilidade de lucrar?
Acredito que no caso dos iPhones acontece uma situação semelhante, agravada por outro agente além da Apple: as operadoras de celular. Nos EUA um iPhone pode sair até de graça, dependendo do modelo e do plano. Os planos de lá custam 1/5 do preço praticado aqui, com uma cobertura minimamente decente no país todo e excelente nas grandes cidades. Aqui o iPhone com desconto da operadora sai mais caro que o preço dele desbloqueado lá, mediante a fidelização de um plano de mais de US$100 (R$ 230) e, ainda sim, não temos o serviço prometido.
Agora, vai o Governo intervir nesse mercado, como quando proibiram a TIM de registrar novos números...
Na minha opinião, o problema mais grave está nas operadoras, que abusam e agem sem nenhuma responsabilização ou cobrança. A Apple e os impostos são problemas secundários.
Considerando o preço do iPhone 5S desbloqueado nos EUA (US$650) e o preço com desconto da AT&T (US$199). O plano mais barato que a AT&T oferece no site da Apple custa US$ 70 e você consegue uma redução de aproximadamente 70% no preço do aparelho. Considerando que as operadoras pagam o preço cheio do aparelho (o que eu não acredito, especialmente porque a compra é feita em lotes), a AT&T teria um faturamento de US$ 840, mas pagaria US$ 450 do aparelho à Apple, sobrando US$ 390 (aproximadamente R$ 900)
Já aqui no Brasil, digamos que o iPhone 5S chegue a partir de R$ 2.400,00. Na Vivo, fazendo um plano de aproximadamente R$ 400, pagaríamos algo em torno de R$ 1.800 no aparelho, o que representaria um desconto de 25% somente.
Considerando a mesma condição da operadora (ela paga o preço cheio), o usuário pagaria à Vivo R$ 4.800 no ano e teria um abatimento de R$ 600. À empresa sobraria R$ 4.200 do usuário.
Fora a receita, mais de 400% maior que a da AT&T, cabe lembrar a péssima qualidade da rede.
Sei que não fiz nenhuma proposição de solução e nem foi esse o meu objetivo. Convido-os a pensarem nessas questões relacionadas às operadoras, antes de repetirem argumentos sobre impostos e lucro do produtor. Essas situações existem, mas diante do modelo de negócio estabelecido pela Apple em diversos mercados (desconto no aparelho com fidelização às operadoras), nossas operadoras é que estão nos enrolando.