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Juliano Martins

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Tudo que Juliano Martins postou

  1. Vez em quando, dou uma pesquisada para ver se alguém já escreveu algo sério sobre a Apple não oferecer teclado ABNT2, e ainda não encontrei. Deixando gostos pessoais de lado, existe uma questão aí sobre o assunto do teclado da Apple que tem a ver comsoberania nacional, com a capacidade (e interesse) de um povo de um país de se impor com a sua cultura, seus valores, sua língua e (até mesmo) o seu próprio leiaute de teclado! Vamos aprofundar a coisa a seguir. É fato que em todos outros países os computadores da Apple são comercializados com o teclado no leiaute padrão daquele país, exceto no Brasil, onde somos "obrigados" a usar o teclado padrão US. Portugal tem seu teclado, Espanha tem seu teclado, Itália, Alemanha e tantos outros países têm a sua versão de teclado, e a Apple se adapta àquele país e entrega o computador com o respectivo teclado. Menos no Brasil. Uma coisa é certa, o nosso país há muitas décadas sofre influência cultural estadunidense a níveis muito acima ao do que outros países e povos se sujeitam. É muito comum no Brasil haver uma supervalorização da língua inglesa e de praticamente tudo o que é gringo. Por exemplo, no cinema, entre um filme nacional e outro gringo, é muito provável que a maioria de nós preferirá assistir ao filme gringo (e talvez nunca nem veja o filme nacional). E os filmes gringos, por padrão, costumam ser apresentados aqui com o áudio em inglês e legendados. Porque é isso que a maioria do público prefere por aqui. Reclamaremos se o filme for dublado. E eu me incluo nisso, afinal, sou fruto desta mesma sociedade. No entanto, quem viaja ao exterior (Europa, no caso) e visita alguns cinemas, se for detalhista, percebe que os filmes por lá são dublados para a língua local, e nem existe opção de áudio inglês com legendas traduzidas. Os programas em canais fechados de TV também são dublados (enquanto aqui temos a cultura da legenda). Andando pelas ruas de Portugal, por exemplo, percebe-se muito menos comércios com nomes em inglês, eles suam a própria língua para dar nomes às suas empresas (por exemplo, me lembro de um bar que servia "Tapas" e o nome era "Tapas nas costas"... inclusive adoro a criatividade deles para nomear estabelecimentos). Já no Brasil é fato: se você não der um nome em inglês pro seu produto, pro seu negócio, pra sua assinatura de e-mail, você está fora (não está, mas a cabeça da pessoa pensa que pra ser bom, pras pessoas acharem bom, tem que ter nome gringo). Numa loja de informática em Portugal, você não compra "mouse", você compra "rato". Enfim.. E de onde vem essa nossa cultura de valorizar o idioma inglês? Acho que não há dúvidas de que é algo fruto do imperialismo cultural dos norte-americanos. Não existe influência cultural de um país em outro que não seja intencional. É a disputa por dominação, por influência mesmo de uns países sobre outros, e inegavelmente, sofremos muita dominação e influência cultural dos EUA. Assim, crescemos em uma sociedade em que consumimos produtos, propaganda, forma de pensar e sonhos de vida gringos, e é muito difícil se dar conta disso e perceber. Normalmente, isso acontece em países que foram colonizados, que são periferia do capitalismo e, portanto, buscam se espelhar ou mesmo permitem facilmente que culturas, hábitos e até a língua das nações dominantes entrem e se proliferem. Isso cria amplos mercados para os produtos do país dominador. Assim, abandonamos nossa própria história e cultura. As classes dominantes fazem isso por acharem "bonito", se distanciam da realidade material e histórica do seu próprio país e tentam se vincular aos padrões estrangeiros. Bom, já cantou Cazuza na música "Burguesia" que "são caboclos querendo ser ingleses". E no fim falei tudo isso pra talvez entendermos melhor porquê uma empresa poderosa se dá ao luxo de vender seus computadores em nosso país sem adequar o teclado para o nosso padrão, sendo que em qualquer outro país eles fazem isso. Então, concluo que, muito provavelmente, isso é assim por uma mescla de oportunidade e estratégia. A oportunidade é devido ao fato de que, como somos tão simpatizantes da língua deles, eles não precisam aumentar o custo de produção tendo de desenvolver para todos os modelos de seus computadores um leiaute a mais para um país específico. E a estratégia é que, mantendo assim, seguirá assim. Pois já é assim. A maioria aqui nem sentirá a necessidade de usar um ABNT2 porque, afinal de contas, NUNCA USOU. Quando usa, não gosta, porque está acostumado ao US. Bom, o texto foi longo, mas pode ser interessante a reflexão para quem se permite pensar mais sobre as coisas. Abraço!
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